quarta-feira, 27 de julho de 2011

CURSO PREPARATÓRIO PARA DISCIPULADORES LIÇÃO 4: A GRANDE OMISSÃO


Lição 4. A GRANDE OMISSÃO 

“Há muitas aberrações doutrinárias e comportamentais que estão ocorrendo no meio evangélico. A qualidade da vida espiritual do brasileiro, em geral, não é boa. E onde está o problema? Basicamente na falta de ensino mais consistente da Palavra. Lideranças mal preparadas levam a rebanhos sem direção correta. Somos fortes para evangelizar, mas fracos para formar discípulos”, acredita Daniel.[1]

            O título deste capítulo foi inspirado no nome de um livro de Dallas Willard, chamado de A Grande Omissão[2], onde fala das conseqüências de se tornar cristão sem se tornar discípulo de Jesus Cristo. Segundo Willard, esta “Grande Omissão” se originou quando as lideranças cristãs substituíram o plano de Jesus por “Fazei convertidos (a uma ‘fé e prática’ específica) e batizai-os de modo a se tornarem membros da igreja” [3]. Essas conseqüências se tornam evidentes na vida daqueles que professam serem cristãos, mas que não praticam as ordenanças de Jesus Cristo em suas vidas, causando uma incoerência entre as instruções bíblicas sobre o modo de vida cristão e a prática de vida dos que professam serem seguidores de Cristo, tanto individualmente, como até de congregações inteiras. Apesar de falar em parte baseado na realidade norte-americana, conseqüências desta “grande omissão” podem ser vistas no cenário religioso evangélico ocidental, e conseqüentemente brasileiro:

Há pelo menos várias décadas, as igrejas do mundo ocidental não consideram o discipulado condição para ser cristão. Não se exige nem se espera de um indivíduo que ele seja um discípulo a fim de se tornar cristão, e é possível continuar sendo cristão sem nenhum sinal de progresso rumo ao discipulado ou dentro dele. As igrejas de hoje, especialmente as americanas, não exigem como condições de membresia – para ingressar ou continuar numa denominação ou congregação local – que Cristo seja seguido em seu exemplo, espírito e ensinamentos.[4]

            Willard conclui dizendo que as duas grandes omissões à Grande Comissão, são em primeiro lugar, omitirmos a tarefa de fazer discípulos e levar as pessoas a serem aprendizes de Cristo e por necessidade, também omitimos o passo de acompanhar os novos convertidos até que cada vez mais eles façam o que Jesus ordenou. Essas missões, na prática formam uma coisa só.[5] Porém como chegamos neste quadro?
             
No Brasil, é possível observar uma mudança ao longo das últimas décadas, sutil, porém contundente no cerne das mensagens evangélicas, no seu método evangelístico e na adesão aos métodos de marketing empresarial, no que evidência não o evangelismo, mas a venda de religião, como meio de atender as necessidades espirituais e temporais da sociedade moderna, esta pragmática, relativista e hedonista. Já está disponível até serviço de “drive-thru” de oração![6]

            Um longo período de abandono do cristianismo bíblico tem como conseqüência, trazido uma séria de “novas teologias” que tem influenciado não só as igrejas neopentecostais, mas pentecostais e até mesmo as tradicionais. Todas essas novidades e modismos no meio da cristandade brasileira têm chamado a atenção de muitos especialistas:

“Existem desvios em toda a parte, mesmo em denominações mais tradicionais há segmentos inteiros contaminados. Arrisco dizer que quase todas as igrejas estão infiltradas com doutrinas estranhas”, adverte Paulo Romeiro.[7]

            Este afastamento do ensino da Palavra de Deus, afeta a visão do cristianismo brasileiro como um todo. Evangelismo e Missões sofrem muito com essa visão presente no cenário evangélico atual, prejudicando a igreja na sua missão de fazer discípulos. As novidades teológicas, os modismos e as novas estratégias de marketing das igrejas que seguem a linha empresarial, levaram as igrejas evangélicas, não apenas as brasileiras, mas as internacionais a “simplificarem uma tarefa complexa”, como definiu Willian D. Taylor, na consulta de Foz do Iguaçu sobre Missiologia Global para o século XXI, se referindo a complexa tarefa da realização da Grande Comissão. É pertinente atentarmos para o que ele diz sobre a simplificação desta tarefa e as conseqüências desta simplificação na Grande Comissão:

“... percebemos que durante as últimas décadas do século 20, uma ênfase exagerada sobre um pragmático e reducionista modo de pensar que penetrou o movimento missionário evangélico internacional. Se desejamos reconhecer isto ou não, temos que saber que esta ênfase invadiu a igreja ao redor do mundo. Os resultados não têm sido saudáveis ou encorajadores (ver Engel & Dyrness, 2000).
            Quais são algumas das simplificações que foram feitas? Elas incluem o seguinte:
¾      As omissões incapacitadoras da Grande Comissão – reduzindo esta somente à proclamação – que nos levaram a uma compreensão parcial da missão da igreja, resultando em anemia espiritual e num Cristianismo fraco, independente da cultura ou nação.
¾      A ausência de um robusto evangelho do reino que nos chama a um compromisso radical e discipulado de Cristo.
¾       Uma teologia inadequada de sofrimento e martírio.
¾      O uso de slogans emotivos para conduzir a tarefa de missões, levando-nos a um falso entendimento da tarefa e do sucesso em nossa missão.
¾      A aplicação de reflexões teológicas e metodologias simplistas à Grande Comissão, que são orientadas muito mais por estratégias de marketing e conceitos seculares sobre o que significa ser efetivo e eficiente.
¾      A redução da evangelização mundial a um empreendimento manejável com uma ênfase exagerada na pesquisa, estatística, objetivos quantitativos e resultados desejados.
¾      Enfoque limitado em uma área particular do mundo e uma excessiva ênfase no ano 2000, gerando expectativas irreais e conduzindo a uma profunda decepção.
¾      Uma ênfase muito grande em missões de curto prazo que minimizam serviços a longo prazo e trazem uma teologia bíblica de vocação inadequada.
¾      A ilusão de alguns de que a mídia de massa é a resposta decisiva para a evangelização mundial ou sugestão de que “a igreja tem a tecnologia para completar a Grande Comissão”, seja internet, a comunicação de massa, publicações ou outra mídia qualquer. O perigo é obvio, porque desconsidera o chamado de Deus para o sacrifício, para a encarnação em nosso mundo de profundas crises pessoais, familiares, socioeconômicas, culturais e crises ambientais.[8]

É evidente que a visão da igreja moderna sobre evangelização mundial, tem causado na verdade, sérios danos na realização da Grande Comissão, na tarefa de formarmos discípulos de todas as nações. Grande parte da igreja cristã evangélica moderna demonstra entender por realização da Grande Comissão, não alcançar o objetivo de formar discípulos de todas as nações através dos métodos bíblicos de evangelização, comunhão e ensino cristão, mas sim, demonstra entender que seu objetivo como igreja é alcançar um crescimento numérico expressivo, através de uma prática evangelística que pouco se parece com a ensinada e praticada pela igreja que vemos atuante nas páginas do Novo Testamento.
Esta prática evangelística de grande parte da igreja evangélica brasileira não tem formado discípulos de Cristo. Ensinamentos bíblicos que envolvem o discipulado cristão como “negue-se a si mesmo” [9], “carregar a cada dia a sua cruz”, “aborrecer a própria vida”, “arrependimento” [10]·, “Novo nascimento” [11], e outros estão cada vez mais ausentes da mensagem evangélica e do processo de discipulado cristão atual. Foram trocados por outros como “conquistar”, “possuir”, “realizar os seus sonhos”, além de conceitos bíblicos distorcidos como “ser vencedor” [12], “ser cabeça e não cauda” [13], e etc. Em conseqüência deste tipo de abordagem evangelística estamos testemunhando a formação de uma geração de pessoas que podem ser chamadas de “consumidoras de religião”, pessoas que estão interessadas em se sentir bem, alcançar uma boa vida, e que nesta busca de sensações, vivem um tipo de “migração religiosa”, mudando de uma igreja para outra, sem levar em consideração uma vida de comunhão cristã, de compromisso cristão.
Sobre esta situação de grande parte da igreja evangélica da atualidade, Paulo Romeiro comenta:
“falar sobre sofrimento, renúncia e mundanismo passou a incomodar os protestantes. Sabemos reunir muita gente em eventos, mas não conseguimos reunir mais as pessoas ao redor da cruz. Costumo dizer que o problema do Brasil não é se curvar a Baal, mas a Mamom, o deus que simboliza as riquezas”.[14]

É urgente a necessidade da volta aos padrões bíblicos expostos sobre a realização da tarefa da Grande Comissão para curar esta “miopia religiosa” demonstrada por grande parte da igreja evangélica brasileira que enxerga apenas o             hoje”, sem possuir e anunciar uma visão da eternidade na sua proclamação, que com sua prática mostra entender que a Grande Comissão, a tarefa da igreja em formar discípulos, se resume em atender apenas as necessidades do homem moderno, mesmo que seja em detrimento dos valores bíblicos, sendo pragmática, formada e guiada na sua evangelização por estratégias de marketing, gerando pessoas que na verdade desejam apenas um deus que satisfaçam os seus desejos, sem se preocuparem com o fato e a necessidade de se tornarem verdadeiras seguidoras de Jesus Cristo, que não sentem a necessidade de se arrepender de seus pecados, de santidade, pois “é mais difícil vencer o domínio de hábitos pecaminosos do que quebrar maldições, libertar enfermos e receber prosperidade” [15] e sem a consciência de possuírem uma alma eterna.
Ev Alan G. de Sá www.evangelismoitaquerao.blogspot.com


[1] STEFANO, Marcos. Que avivamento é esse? Artigo da revista Eclésia, ano 11-número 125, p.36.
[2] WILLARD, Dallas. A grande omissão: as dramáticas conseqüências de se tornar cristão sem se tornar discípulo. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
[3] Idem, p.19.
[4] Idem, p.17.
[5] Idem, p.19.
[7] STEFANO, Marcos. Que avivamento é esse? Artigo da revista Eclésia, ano 11-número 125, p.40.

[8] TAYLOR, Wiliian D. Missiologia Global para o século XXI: A Consulta de Foz do Iguaçu. Londrina: Descoberta, 2001.
[9] Mateus 16.24.
[10] Lucas 24.46, 47.
[11] João 3.3.
[12] 1 Coríntios 15.57.
[13] Deuteronômio 28.13.
[14] STEFANO, Marcos. Que avivamento é esse? Artigo da revista Eclésia, ano 11-número 125, p.38.
[15] LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a igreja: Ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

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