segunda-feira, 25 de julho de 2011

CURSO PREPARATÓRIO PARA DISCIPULADORES Lição 1 O mandamento esquecido pela igreja moderna.


Curso preparatório para discipuladores – lição 1.

O MANDAMENTO ESQUECIDO PELA IGREJA MODERNA

INTRODUÇÃO

            Discipulado cristão é um tema que claramente permeia as páginas do Novo Testamento, seja através de Jesus Cristo, o Mestre e Senhor dos discípulos, bem como através da vida dos apóstolos e da igreja primitiva. Entretanto, apesar deste testemunho deixado pelo Espírito Santo através das Escrituras Sagradas, discipulado é um tema esquecido pela igreja moderna, pelo menos por grande parte dela.

            Dizer que é um tema esquecido parece ignorar o fato de que nos últimos anos, principalmente no Brasil, há um expressivo crescimento do movimento evangélico, que é percebido através da sua presença na mídia, indústria fonográfica e na vasta quantidade de igrejas e denominações que surgem todos os anos, de ramo pentecostal e neopentecostal.

Entretanto, ao vermos mais de perto este crescimento, e imergindo nestes movimentos, é perceptível a discrepância destes movimentos entre a sua prática na evangelização e discipulado, e o que a Bíblia ensina sobre estes temas. Algumas denominações nem falam sobre o assunto.

Por que fazer discípulos é o mandamento esquecido pela igreja moderna? Procuramos responder esta afirmação através das páginas a seguir.
 
“MULTIDÃO” OU DISCIPULOS DE JESUS CRISTO?
“Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. Chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo”.[1]
“É evidente que existe uma Grande Disparidade entre a esperança de vida expressa em Jesus – uma realidade na Bíblia e numa série de exemplos magníficos de seus seguidores – e o comportamento diário, a vida interior e a presença social da maioria dos que se dizem seguidores de Jesus.” [2]

No maior país católico do mundo[3], estima-se que o número de evangélicos no Brasil no ano de 2010 é de aproximadamente 55 milhões.[4]Esta estimativa é baseada nos números indicativos do crescimento evangélico no período de 1991 que era de cerca de 13,7 milhões de habitantes para os 26,1 milhões de habitantes evangélicos em 2000. O maior país católico do mundo está cada vez mais evangélico.

De fato, o crescimento evangélico no país não passa despercebido. Trouxe grande mudança no cenário religioso brasileiro. Segundo o IBGE, no período de 1940 a 2000, o número de evangélicos no país passou de 2,6% para 15,4% da população.[5]É uma das muitas transformações sociais na história do país. Acredita-se que este crescimento pode dar nova cara para a sociedade brasileira.[6]

Além da sua já marcante presença nas áreas sociais, política e educacionais[7], o crescimento evangélico é responsável por grande parte da movimentação financeira no país: estima-se que desde a produção e venda de CDs e DVDs, livros e instituições de ensino, o mercado evangélico movimenta cerca de 3 bilhões de reais por ano e aproximadamente 2 milhões de empregos.[8]

Outra evidência deste crescimento é a forte presença evangélica nos meios de comunicação em massa, como rádio, internet e, sobretudo, na televisão, com denominações comprando até canais de televisão. Pentecostais e neopentecostais têm investido agressivamente em programações para anunciar o evangelho e divulgar suas igrejas. Por exemplo, Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, disse que atualmente a igreja paga mais de 13 milhões de reais por mês para ter seus programas exibidos no Brasil e no exterior, como África e Europa.[9]

Entretanto, a grande marca do crescimento evangélico é a multiplicação de igrejas pelo país. Segundo o Sepal (Serviço para a Evangelização da América Latina), apesar de não haver números precisos, as igrejas evangélicas seriam em torno de 188.498 igrejas aproximadamente, no ano de 2004. [10] Esse crescimento de igrejas evangélicas já chama a atenção como fenômeno social:

“Mais do que simples tendência, a proliferação das igrejas evangélicas, há alguns anos, já chama a atenção como fenômeno sociológico. Nos anos 90, o Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser) debruçou-se sobre os números e chegou a uma conclusão de espantar: só no Grande Rio, cinco novas igrejas surgiram... por semana!”[11]

Como o citado artigo acima diz, essa multiplicação de igrejas no país acontece porque é muito fácil abri-las no Brasil:
“A multiplicação de igrejas só acontece porque, no Brasil, é muito fácil abri-las. É o que diz Rubens Moraes, 71, pastor da Assembléia de Deus de Madureira, no Rio. Ele também é contador e trabalha há quase 40 anos, inclusive na área de legalização de entidades evangélicas. ‘Para se abrir uma igreja, não é necessário muita coisa’, explica. ‘Junta-se uma diretoria composta por oito pessoas; depois convoca-se uma reunião para emitir a ata de fundação. A partir daí, basta elaborar o estatuto e registrá-lo em cartório’. Com este registro, é possível solicitar o cartão do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, o CNPJ, o que pode ser feito até pela internet. Segundo Rubens, todo o processo é baratíssimo: ‘Se o próprio interessado quiser fazer tudo, vai desembolsar cerca de R$ 250”.[12]
“A semente caiu em solo fértil. Os templos eram 267, em 1930; 912, em 1940; 1.929, em 1950; 4.583, em 1960; e 11.118 em 1970. Hoje, há 26.000 templos no país, mais de 1.000 deles em São Paulo. Nesse mesmo perímetro urbano da maior cidade do maior país católico do mundo, o Vaticano comanda só 353 paróquias e 400 igrejas e capelas. Os templos pentecostais são freqüentemente acanhados, quase sempre pintados de azul e branco, e ficam engastados na periferia das cidades. Multiplicam-se num processo semelhante ao da divisão celular: um pastor com espírito de liderança e algum carisma abandona uma igreja já consolidada, cuja liderança dividia com outros pastores, e funda seu próprio templo. Muitas prosperam também economicamente. A Igreja de Nova Vida, uma pequena seita, ergueu no bairro carioca de Botafogo um templo de sete andares, com refrigeração interna, mármore italiano e vagas na garagem para cinqüenta carros.” [13]

Esse crescimento do movimento evangélico é incontestável, principalmente do ramo pentecostal e neopentecostal. É o crescimento da igreja evangélica moderna. Analisando estes números, é possível afirmar que tal crescimento é semelhante ao registrado no livro de Atos dos Apóstolos, durante o início da igreja primitiva[14]. Porém, ao imergir nestes grupos, alguns questionamentos se tornam inevitáveis, mesmo que diante deste expressivo crescimento alguns estudos já afirmam que o crescimento evangélico não acompanhará o mesmo ritmo dos últimos anos.[15]

Um dos primeiros questionamentos é sobre o teor de suas mensagens. A mensagem antiga sobre o céu, inferno e sobre a valorização da moral e dos bons costumes, deu lugar a mensagem que atinge as necessidades da sociedade moderna:

“Estão distorcendo e banalizando o significado de avivamento. Na história, os avivamentos sempre trouxeram mudanças para a sociedade, como diminuição da violência e da corrupção. Não vemos isso no Brasil. Aqui, a influência evangélica na sociedade ainda é muito pequena. Temos um crescimento numérico, mas hoje vejo que o mundo tem influenciado mais algumas igrejas do que elas, o mundo”, aponta o pastor e jornalista assembleiano Silas Daniel, autor do livro A sedução das Novas teologias (CPAD), no qual critica os novos ensinos que estão entrando nas igrejas.[16]

            A mensagem da cruz de Jesus Cristo, arrependimento e novo nascimento deram lugar a uma mensagem de esperança para um povo sofrido com a realidade social brasileira:
“Instabilidade política, desemprego, aumento da dívida externa, arrocho salarial, crise no atendimento público, com falta de serviços essenciais... é nesse contexto que as igrejas neopentecostais começam a divulgar sua mensagem de esperança para um povo desesperançado com a realidade brasileira.” [17]
            Diante deste cenário, podemos questionar se de fato, a igreja evangélica moderna é formada apenas por uma multidão de pessoas que estão buscando o paraíso na terra e a solução de seus problemas imediatos, de como são chamados por alguns, de “consumidores de religião”, ou formada de discípulos de Cristo, pessoas que o aceitaram como mestre e Senhor de suas vidas e o seguem? A igreja evangélica atual tem se preocupado em cumprir a grande comissão de Jesus Cristo? Uma análise bíblica e atual nos mostra que há muito trabalho a ser feito no cumprimento da tarefa de “fazer discípulos”, tendo como principal campo de trabalho, não apenas os povos não alcançados, mas principalmente a grande multidão de evangélicos brasileiros. Um retorno do movimento evangélico aos métodos bíblicos de evangelismo e da prática do discipulado é fundamental, vital para a relevância, sobrevivência e autenticidade bíblica da religião evangélica.

Ev. Alan G. de Sá



[1] Mateus 13.36.
[2] WILLARD, Dallas. A grande omissão: as dramáticas conseqüências de se tornar cristão sem se tornar discípulo. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p.9.
[7]As igrejas evangélicas realizam um monumental trabalho de alfabetização de adultos e estimulam o hábito da leitura. Embora recrutados entre a população mais pobre e, portanto mais suscetível ao analfabetismo -- 54% do rebanho ganha até cinco salários mínimos --, os evangélicos são mais letrados. O analfabetismo entre eles atinge apenas 9,5%, contra 20% da população brasileira em geral”. http://veja.abril.com.br/020797/p_086.html acesso em 18/07/2010.
[9] ROMEIRO, Paulo & ZANINI, André. Suor Carisma e Controvérsia-Igreja Mundial do Poder de Deus. São Paulo: Editora Candeia, 2009, p.74.
[11] FERNANDES, Carlos e MAZZARELLI, Luciana. Igrejas para todos os gostos. Artigo da revista Eclésia, nº 91, Julho de 2003, p.44.
[12] FERNANDES, Carlos e MAZZARELLI, Luciana. Igrejas para todos os gostos. Artigo da revista Eclésia, nº 91, Julho de 2003, p.46.

[14] At 2.40-41.
[15] “A análise é do sociólogo Ricardo Mariano, professor da Pontíficia Universidade católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em artigo para o Jornal Folha de São Paulo do domingo, 2 de maio. ‘No Brasil, e em outros países da América Latina, a pluralização do campo religioso, a explosão pentecostal e a crescente concorrência religiosa têm estimulado um paulatino processo de revigoramento comunitário e institucional do catolicismo. Tal reação tenderá a reduzir o espaço social e religioso de ação dos pentecostais nas próximas décadas e, por conseqüência, o tamanho e a velocidade de seu crescimento’, avalia Mariano.” http://www.adonainews.com.br/2010/05/11/crescimento-pentecostal-sera-menor/ acesso em 20/07/2010.
[16] STEFANO, Marcos. Que avivamento é esse? Artigo da revista Eclésia, ano 11-número 125, p.38.
[17] ROMEIRO, Paulo & ZANINI, André. Suor Carisma e Controvérsia-Igreja Mundial do Poder de Deus. São Paulo: Editora Candeia, 2009, p.51.

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